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Este ano voltei a marcar como objetivo concluir um Ironman, para isso dediquei os três últimos meses a uma preparação mais especifica, normalmente chega para quem já treina com bastante regularidade, mas é preciso ter sempre em atenção a capacidade individual de cada um, e acima de tudo o histórico de treino de cada um, foram três meses em que tive a sorte de não me lesionar e conseguir treinar sem grandes limitações.
O dia do IRONMAN é aquele que todos anseiam, esta é uma organização muito profissional e onde tudo está pensado e preparado ao pormenor, para que nada falte aos triatletas e acompanhantes, sempre com o intuito de proporcionar uma semana de “tri-turismo” associado aos seus eventos, no dia anterior já todos os preparativos estão concluídos, todo o material necessário para a prova, está entregue e preparado, milhares de bicicletas, milhares de sacos para as transições, tudo decorre com enorme serenidade e sente-se a ansiedade nos rostos de milhares de triatletas de todo o mundo
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chegada a hora de correr, tal como planeado saí-o cauteloso, vou a controlar o ritmo 4h30/km era o planeado, e uma corrida positiva, vou sorrindo e acenando, afinal até vou a “travar” o ímpeto, à passagem dos 21km consigo perceber que o relógio da prova marca 7h36, a cabeça começa a fazer contas, afinal só me falta 1h30, sem ter qualquer referência do lugar, era o tempo que mais me interessava, e estava ali tão perto, de melhorar o meu melhor registo de 9h18:00, continuo a correr animado, mas aos 26km uma pequena paragem “técnica” quebra o ritmo, as pernas parecem agora de pedra, sei que não posso andar e continuo na luta, mas o ritmo cai abruptamente, é neste momentos que habitualmente dizemos que “levámos com a marreta” as pernas não respondem, a cabeça começa a quebrar também, começa a divagar, no meu caso agarrei-me a dois amigos que este ano nos deixaram, o Leonardo Lopes e o David Vaz, triatletas que partiram cedo demais, percebo a sorte que tenho em estar ali, empenado e a sofrer, é sinal que estou vivo e só tenho que aproveitar essa dádiva, falta uma volta, cerca de 10km (fiz 55’ dos 21km aos 31km), já sofri, já quebrei, sei que muita gente me está a acompanhar e a vibrar, afinal o sonho está ali tão perto, já não há pernas, já não há cabeça, sobra o coração, volto a encontrar um ritmo desconfortável, mas a meta está já ali, o apoio do publico é ensurdecedor, chego em 99º mas é como se fosse o primeiro, a corrida acaba com 3h31’, menos 15’ e tinha melhorado o meu tempo, muito provavelmente estaria agora com a “slot” para o IMHawai World Championship 2017
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É o meu quinto IM, voltei a estar muito perto de melhorar o meu registo e acabei tranquilo, de consciência tranquila porque dei tudo o que tinha, e consegui gerir o melhor possível, não as 9h31, mas os últimos três meses, boas sensações, sofrimento, vibração, diversão e motivação, no fundo é isto o TRIATLO sublimado pela distância nobre, aquela que esteve na origem deste desporto, o IRONMAN.